A Sereia Marreca


Como hoje é Dia Mundial do Livro, decidi oferecer um presente aos meus leitores: uma pequena história escrita pelos meus filhos! Sim, o Tiago de seis anos e a Carlota de quatro, começaram a criar esta história espontaneamente durante o fim-de-semana. Eu limitei-me a passar as suas palavras para o papel. Com muito orgulho, devo dizer. Até porque, tirando a pontuação e uma ou outra correcção na construção das frases, as palavras são mesmo todas deles.

E para que conste,  estou a partilhar a história deles a pedido dos autores, e não por vaidade maternal. Aliás, na sua inocência, eles queriam publicá-la em livro e rapidamente. A Carlota perguntava «e agora, mamã, a história vai sair do computador em papel?» e o Tiago, antecipando-se, respondeu logo «Não, Carlota, agora a mamã vai dar ao Eduardo (meu editor na Bertrand) e ele faz um livro e depois vai estar à venda para toda a gente comprar!». Óbvio, não acham? Agora vou sou ali limpar a baba.




A sereia marreca 


Era uma vez uma senhora que gostava de ser uma sereia. Um dia aproximou-se uma fada e ela disse:

- Gostava tanto de ser uma sereia...

- Está bem – respondeu a fada. - Posso transformar-te numa sereia. Mas, terás de ser uma sereia marreca.

- Marreca? – perguntou a senhora. – Não, eu quero ser uma sereia como as outras, que têm o pescoço direito!

- Está bem, eu vou tentar, mas se não conseguir terás mesmo de ser marreca.

Esta fada madrinha, ainda estava a aprender a fazer magias, por isso, muitas vezes estas não saiam lá muito bem. Então, a fada, sem querer, pôs na varinha mágica um bocadinho de vinho tinto, o que fez com que a sereia saísse mesmo marreca. A senhora começou a chorar quando viu que tinha uma marreca e mergulhou no oceano profundo.

Quando as outras sereias a viram começaram a gozar com ela.

- Não gozem comigo! – disse a sereia marreca - Eu só sou marreca porque a fada madrinha não conseguiu fazer bem a magia.

- És marreca! És marreca! – e gozavam cada vez mais.

Aí a sereia marreca foi para dentro de uma rocha e nunca mais saiu de lá.

A fada madrinha foi para o jardim das fadas muito preocupada e arrependida. Dirigiu-se à sua professora e confessou o que tinha feito.

- Desculpa Professora, eu fiz uma magia que não correu nada bem... Transformei uma senhora numa sereia como ela me pediu. Mas saiu uma sereia marreca...

- O quê? Vais ter de ficar de castigo. Um mês inteiro sem fazer magias!


No outro dia a fada apareceu na escola e perguntou à professora:

- O que posso aprender hoje?

- Nada! – respondeu a professora ainda zangada com ela.

- Porquê?

- Porque o que fizeste é muito grave. Se não sabes fazer bem as magias, não as faças de todo.

A professora da fada teve de ir resolver o problema. Não podia deixar a senhora naquele estado. Então, transformou-se a si própria numa sereia, mergulhou no oceano e foi procurar a sereia marreca. Nadou e nadou e nadou e não estava a conseguir encontrá-la. Até que espreitou para dentro de uma gruta e vi-a lá dentro a chorar.

Nessa altura a fada perguntou:

- Porque é que tens a cauda tão torta que nem consegues entrar para o mar?

- Porque sou uma sereia marreca. Mal consigo nadar... – respondeu com tristeza.

- Então, tens de ir para as aulas de natação – disse a fada.

- Natação? Mas onde?

- Estava a brincar. Eu consigo transformar-te numa sereia normal. Porque eu sou a professora das fadas madrinhas.

A fada professora colocou na sua varinha um pouco de cheesecake de chocolate e abanou-a vigorosamente até que uma luz de arco-íris apareceu à volta da sereia marreca e transformou-a numa sereia lindíssima. Era uma sereia com uma saia e com os olhos pintados! Assim, realizou-se o desejo da senhora. Era finalmente uma verdadeira sereia.


Fim 


Carlota e Tiago Janes

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