Entrevista a uma leitora


Uma das melhores coisas que a experiência de publicar livros me trouxe foi a possibilidade de conversar com os meus leitores. É uma relação diferente da que se cria com seguidores do blog ou de redes sociais, porque um livro é um objecto em si, que simplesmente se pode fechar e arrumar numa prateleira para não tão cedo voltar a ser aberto. Ou seja, quando se lê uma crónica num blog ou um post no Facebook é fácil e imediato fazer um comentário. Mas haver leitores que depois de terminarem um livro se dão ao trabalho de pegar num smartphone ou computador para me escreverem um email ou mensagem a falar de um livro meu é sinceramente comovente.
Por vezes escrevem-me para elogiar ou comentar o livro, mas muitas vezes acabam por fazer pequenos desabafos ou partilhar um bocadinho das suas histórias. E de repente parece que nos conhecemos, embora nunca nos tenhamos cruzado. E de repente cria-se uma ligação muito especial.
A Liliana é uma dessas leitoras. Contactou-me pela primeira vez meses depois de "Os 30" terem saído e, desde então, a cada novo livro, há sempre da parte dela uma palavra carinhosa. Por isso, foi com todo o gosto e sem qualquer hesitação que respondi ao seu pedido de entrevista. Uma entrevista que acabou por resultar muito bem, mérito das perguntas dela.

Digam lá se não concordam.


1- Quem era a Filipa antes e depois do primeiro livro editado?
Continuo a mesma Filipa, a Filipa que sempre quis ser escritora e que sempre escreveu histórias. A diferença reside no facto de agora ter mais confiança na minha escrita porque houve quem quissesse publicar o que eu escrevi e porque recebi boas criticas dos leitores. Ou seja, descobri que o que escrevo interessa às pessoas (pelo menos a algumas) e isso acaba por me dar mais motivação para continuar a escrever.


2-Qual a sensação dum trabalho reconhecido?
É fantáśtico! É descobrir que afinal as minhas histórias, as minhas personagens, as minhas ideias são relevantes. Saber que provoco nos meus leitores o mesmo que tantos escritores que li me provocaram. 

3- Qual dos três livros é o teu preferido ou te deu mais gozo fazer? Porquê?
O meu preferido é "Os 30", porque foi o primeiro. Não há amor como o primeiro, não é? Mas o que me deu mais gozo fazer foi o livro de crónicas "Coisas que uma Mãe Descobre (e de que ninguém fala)", porque tive o prazer de trabalhar com a minha grande amiga Sofia Silva, a autora das ilustrações, e juntas construimos o livro como se fosse também um áĺbum de recordações para quem o lê.

4- Quem são a Filipa-Escritora e a Filipa-da-publicidade? São a mesma pessoa? É possível, algum dia, só existir uma delas?
A Filipa-Escritora é a verdadeira Filipa. O que resulta desse trabalho são as minhas ideias, reflexões, paixões. É um trabalho criativo mas íntimo e pessoal. A Filipa-da-publicidade trabalha em dupla e é obrigada a responder a um briefing do cliente, ao escurtínio de directores criativos, às decisões dos directores de marketing, às exigências do público a que se dirige. É um trabalho criativo mas colectivo e completamente impessoal. Nem poderia ser de outra forma: quando escrevo para publicidade escrevo em nome da marca que estou a trabalhar. Não pode transparecer a minha voz.
Gostava de um dia poder ser apenas a Filipa-escritora.

5- E se amanhã acordasses e tudo tivesse sido um sonho?
Continuava a escrever e a enviar manuscritos a editoras até conseguir realizar o sonho.

6- Que conselhos dás a quem quer seguir os teus passos?
Muito trabalho, muito sentido crítico, muita preseverança. Ter a humildade para saber que há centenas de escritores melhores que nós, que é muito difícil vender livros em Portugal, mas que isso não pode ser desculpa para pararmos de escrever e deixarmos de fazer mais e melhor.

7- Quais são os pros e os contras de ter um trabalho editado?
Os pros são ter uma voz e ver a nossa mensagem chegar a pessoas que nao conhecemos, que nem sonhávamos que pudessem ler as nossas palavras. Os contras são passarmos a estar sujeitos ao cyber-bulling (para quem como eu está muito presente nas redes sociais) e à crítica destrutiva e infundada.

8- Eram estas as tuas expectivas?
Chegar ao top 100 da Amazon? Não, isso foi muito mais do que tinha imaginado.


9- Já pensaste em desistir? Porquê?
Nunca pensei em desistir, porque escrever é o que mais gosto de fazer. Enquanto tiver leitores, mesmo que sejam poucos, vou continuar a publicar. E se um dia não tiver leitores continuarei a escrever para mim.

10- Tens novidades que possas partilhar?
Sim! Esta Primavera vai sair o meu quarto livro. Ainda não posso revelar o título, mas posso dizer que se trata de um romance contemporâneo e que se passa nas ruas de Lisboa.

11- Uma frase...
Não há impossíveis

12- Algo que não realizaste no mundo da literatura...
Viver da escrita

13- Os teus livros serem convertidos em filmes, séries e/ou peças de teatro seria...
Maravilhoso. Adorava ver como um realizador ou encenador pegaria nas minhas histórias e como os actores dariam corpo às minhas personagens.

14- A escrita para ti é...
Indispensável

15- Os teus livros para ti são...
Filhos. E agora que sou mãe ainda tenho mais certeza disso: temos uma gestação que nos faz alternar entre o prazer puro e o sentimento de "porque é´que me meti nisto" (o processo de escrita, edição, revisão tem momentos dramáticos); depois temos um parto onde nos vemos entre o medo e a mais completa alegria (o equivalmente ao lançamento do livro); depois vêm os primeiros tempos, em que temos de ter todos os cuidados com a promoção e divulgação do livro, para garantir que tem uma vida longa nas prateleiras das livrarias; e por fim temos de deixá-lo partir, crescer sozinho, passar de mão em mão. Como os filhos, os livros deixam de ser só nossos e passam a ser de todos os que os lêêm. E ainda bem.


Podem ler a peça completa no blogue da Liliana. Embora em ache que ela exagerou um bocadinho no título, até porque eu só tenho um metro e meio ;)

http://www.devaneiosdemissl--8.com/2017/02/a-entrevista-grande-filipa-fonseca-silva.html?m=1


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