Trump ou como o fim do mundo está próximo



O resultado das eleições americanas surpreendeu-me. Sim, chamem-me ingénua, mas mesmo depois do Brexit acreditei no melhor, e sobretudo que a estupidez humana tem alguns limites, pelo menos os limites de não votar em alguém que fala das mulheres com frases como “grab them by the pussy” ou dos imigrantes mexicanos com um “they are murderers and rappists”. Pois. Parece que mais uma vez a minha esperança na nossa espécie foi demasiada e os factos demostram que não há mesmo limites para a estupidez.

Por mais que os especialistas expliquem este resultado com teorias acerca do voto contra o sistema ou como reacção à crise global, na esperança ingénua de que as coisas voltem a ser como nos dourados anos noventa onde a prosperidade e ostentação no mundo ocidental eram os valores glorificados, custa-me aceitar que entre dois males se escolha aquele que personifica tudo aquilo de que o mundo neste momento não precisa: aquele que assenta num discurso populista, odioso, misógino e ignorante. E já agora era importante que as pessoas finalmente percebessem que o mundo nunca mais vai ser como nos anos noventa, que os recursos são escassos e finitos, que o planeta não sobrevive a milhões de pessoas a guiarem carros poluentes, a comerem três quilos de carne de vaca por semana e a viverem em casas de sete assoalhadas com vinte televisões.

E isso leva-me precisamente ao que realmente me assusta nesta eleição e na razão pela qual considero que o fim do mundo está próximo. Não é o facto dos americanos terem um presidente xenófobo, machista, mal-educado e ignorante. Isso é um problema deles e será um problema tanto maior quanto as medidas que ele vier a adoptar, que incluem coisas como acabar com o Obamacare e manter o acesso às armas como está. O que é devastador é ter consciência do impacto de um presidente destes no futuro do planeta. Um presidente que em Maio disse que o aquecimento global é um embuste e que uma das suas primeiras medidas no que toca ao Ambiente seria cancelar o Acordo de Paris, que como todos deviam saber não é vinculativo, logo qualquer pais pode simplesmente ignorá-lo sem qualquer consequência. Um presidente que garantiu aos lobistas do petróleo, aos trabalhadores das industrias poluentes e a todos aqueles que não estão dispostos a abdicar de nenhuma parte do seu “american way of life” que vai traçar um plano energético que coloque as necessidades das famílias e trabalhadores americanos em primeiro lugar. Sendo que as necessidades energéticas das famílias e trabalhadores americanos são o dobro das da Grã Bretanha e duas vezes e meia as do Japão. Aliás, está mais do que provado, demostrado e divulgado que os americanos, que representam 5% da população mundial, gastam 1/3 de todo o papel, ¼ de todo o petróleo, 23% de todo o carvão e 27% de todo o alumínio. DO PLANETA!

Quando acabei de ver o documentário [Before the Flood], de que vos falei no último post, apesar de deprimida fiquei esperançosa por saber que ainda havia maneira de reverter a espiral de destruição que vai acabar com a vida na Terra nos próximos séculos. Mas com este resultado , resta-me começar a fazer o luto. O planeta como o conhecemos começou hoje a morrer. A não ser que os líderes do resto do mundo se mantenham comprometidos e avancem com as medidas necessárias, mostrando aos EUA que não precisam deles e que a sua dependência do petróleo vai deixá-lo sozinhos, com os seus amigos do médio oriente, enquanto o resto do mundo civilizado se liberta e sobrevive com energias renováveis. E entretanto pode ser que os furacões e as secas atinjam os EUA com cada vez mais força até os americanos perceberem que quem semeia ventos colhe (literalmente) tempestades.

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