A minha geração


Este fim-de-semana li um artigo do Pedro Bidarra no Dinheiro Vivo intitulado Os filhos do 25 de Abril. É um artigo, como sempre, bem escrito e acutilante, de um homem que admiro profissionalmente (não fosse eu publicitária). No entanto, termina de forma estranha e paternalista:

“Eu não confio na minha geração nem para se governar a ela própria quanto mais para governar o país. O pior é que temo pela que se segue. Uma geração que tem mais gente formada, mais gente educada mas que tem como exemplos paternos Durão Barroso, Santana Lopes, José Sócrates, Passos Coelho, António J. Seguro, João Semedo e companhia. A geração que aí vem teve-nos como professores. Vai ser preciso um milagre.”

Ora eu não sei a que geração o Pedro se refere. Talvez a dos que hoje têm vinte anos ou quinze? É que não pode ser a minha, a da faixa dos trinta. Sim, porque nós, os trintões, não pertencemos à sua geração. Aliás, não só não éramos adolescentes no 25 de Abril como nem sequer éramos nascidos.

Fomos educados por pessoas que fizeram o 25 de Abril e, por isso mesmo, temos uma consciência política bastante vincada, como se pôde ver nos movimentos que criámos e cujo exemplo máximo foi o 12 de Março. E acredite que não temos “como exemplos paternos Durão Barroso, Santana Lopes, José Sócrates, Passos Coelho, António J. Seguro, João Semedo e companhia.” Isso até pode ser considerado um insulto!

Fomos educados sem passagens administrativas e muitos foram os meus colegas que chumbaram de ano, mesmo na escola primária, o que, na altura, não era um drama.

Fomos mimados, claro, por pais felizes por nos poderem criar com mais liberdade e por nos poderem proporcionar o que não tiveram, mas ainda fomos contrariados, o que nos ajuda hoje a encarar a realidade: empregos de 1000 euros, viver em casa dos pais, adiar os planos de filhos, de casa de férias e de carros descapotáveis.

Quando saímos da universidade, ao contrário da sua geração, Pedro, não tivemos pleno emprego nem salários luxuosos. Também ao contrário da sua geração, emigramos muito, não pela aventura hedonista, mas por necessidade e por ambicionarmos uma vida melhor, como tantos portugueses fizeram no antigo regime. Porque não estamos à espera que os “amigos e conhecidos e compinchas e companheiros de copos e de praia” nos arranjem uma cunha, nos promovam apesar das nossas limitações, como hoje acontece nas empresas (e olhe que eu já passei por várias).

A minha geração pode ter muitos defeitos, mas só tem um problema: a sua. A que está hoje no poder e nas chefias e que é jovem demais para se retirar. Mas não tema, Pedro. Não será preciso um milagre. Havemos de arranjar uma forma inesperada de furar o esquema. Até porque crescemos a ver o MacGyver.

Comentários

  1. Penso exactamente do mesmo modo. Vou deixar as tuas palavras no meu blog para as pessoas lerem e passarem por cá.

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  2. Filipa! Não podia ter dito melhor! Sou da geração anterior à sua e penso exactamente da mesma forma! Só espero que o "furar o esquema" como o MacGyver seja rápido pelo bem da minha geração e da dos meus filhos!!
    Beijos, Lena

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