É obrigatório readaptar o guarda-roupa


Durante a primeira gravidez, sobretudo no final, quando as dores nas costas tornaram impossível calçar os meus queridos saltos altos, a coisa de que tive mais saudades foi do meu guarda-roupa fashion. A saia comprida de cintura subida, os vestidos justinhos, os tecidos sedosos. Pensava eu, na minha ingenuidade de mãe de primeira viagem, que assim que recuperasse a forma poderia voltar a usar tudo como antes. Pois não podia estar mais enganada.

Voltar a usar a nossa roupinha não é "apenas" uma questão de recuperar a silhueta. É uma impossibilidade que advém de todo um novo estilo de vida. Não que as mães tenham de se vestir de mães. Só que, de repente, a escolha da fatiota do dia está condicionada por diversos factores que antes nos passavam completamente ao lado.

Eis os quatro mais relevantes e as respectivas soluções que encontrei para contorná-los:

1) Andar com um bebé ao colo não se coaduna com saltos de dez centímetros.
Sobretudo na calçada portuguesa. Por isso, temos duas hipóteses: ou andamos de saltos mais baixos ou não tiramos o bebé do carrinho (a minha opção preferida). Aliás, o carrinho até ajuda na árdua tarefa de calcorrear as ruas das nossas cidades sem enfiar o salto num dos inúmeros buracos que encontramos pelo caminho. Se além do pequeno bebé existirem outras crianças, nomeadamente menores de seis anos que gostam de correr para o meio da estrada ou desparecer no meio do centro comercial, o melhor é ficar sempre pelos sapatos rasos.

2) O verniz colorido não é uma opção. 
É que entre as inúmeras lavagens de biberões, banhos, mudas de fraldas e o desapertar minúsculos botões e molinhas das roupas do bebé, acreditem que o Rouge Noir fica desfeito em três tempos. Assim, a minha opção é manter as unhas das mãos arranjadas, mas pintadas com verniz transparente e aproveitar a cor para as unhas dos pés.

3) Há tecidos que não são à prova de bebé. 
Logo, há peças que devem simplesmente ficar longe das crianças. Baba, leite, papa, fruta, bolsado, são apenas alguns dos fluidos que podem destruir uma camisa de seda ou um vestido de cetim. E acreditem que, por mais aventais que ponham, o vosso pequenino ser vai encontrar maneira de vos sujar. A maioria das vezes de forma tão amorosa que a dor de ver aquela peça arruinada é atenuada. Naquele momento. Depois, quando estamos a tentar adormecer, volta para nos assombrar. O que fazer? Antes de vestir seja o que for pergunto-me "ficarei muito triste se esta peça se estragar?". Se a resposta for sim, a peça volta para o armário à espera de um jantar só para adultos.

4) Brincos e acessórios transformam-se em perigosas armadilhas. 
Se por um lado, dão jeito para entreter o bebé na origem de uma birra no meio do restaurante, também podem dar uma enorme dor de cabeça, quando ele rebenta o colar e começa a colocar as pecinhas na boca ou quando nos rasga um lóbulo com um puxão no brinco. Alternativa? Brincos de mola, peças que não se partam, investir em cintos e carteiras em vez de pulseiras e colares.

Em suma, não é preciso renunciar às últimas tendências, nem começar a usar apenas leggings e túnicas baratas. Só temos de readaptar o nosso estilo e lembrarmo-nos que, agora, já não estamos sozinhas. E ainda bem.

©Sofia Silva
http://mademoisellesilva.blogspot.pt/

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